O estudo exploratório “Mental health and access to mental health services for people living with HIV in the WHO European Region”, que integra o projeto do EATG "Mental Health, Well-being and HIV", arrancou no dia 10 de outubro de 2020 (dia da Saúde Mental) e, através de um inquérito online, disponível em sete línguas, recolheu, até dia 3 de novembro de 2020, as respostas de 646 pessoas que vivem com o VIH na região europeia da Organização Mundial de Saúde (OMS), 63 das quais de Portugal.
“Trata-se de um estudo exploratório, que procurou obter ‘uma visão global’, ao analisar as diversas dimensões da saúde mental das pessoas que vivem com o VIH: impacto da pandemia e do diagnóstico de VIH na saúde mental o tipo de respostas que estão disponíveis e o acesso a essas mesmas respostas ”, apontou o Dr. Daniel Simões, membro do European AIDS Treatment Group (EATG) e o autor principal do relatório do estudo “Mental health and access to mental health services for people living with HIV in the WHO European Region”, apresentado na Conferência da EACS 2021 em formato de e-poster.
“Após a realização deste inquérito, ficou claro que há pouco acesso efetivo das pessoas que vivem com o VIH a serviços de saúde mental. Portanto, a percentagem de pessoas que acede a serviços profissionais de saúde mental é reduzida em toda a Europa, considerando esta amostra de 646 participantes. O que vimos (através de respostas dadas diretamente pelos inquiridos) é que os reportes de problemas relacionados com a saúde mental em pessoas que vivem com o VIH são bastante superiores, como seria de esperar, aos da população em geral”, confirma o Dr. Daniel Simões.
“Há muito poucas respostas de apoio à saúde mental, especificamente dirigidas às pessoas que vivem com o VIH, pelo menos, que sejam acessíveis e conhecidas. O que significa que há poucas pessoas com acesso a estes serviços, mesmo ao longo do seu acompanhamento clínico.”
A partir destes resultados, os autores do estudo elaboraram um conjunto de recomendações, que foram apresentadas na sessão “European Aids Treatment Group (EATG) HIV & Mental Health: new perspectives from a community-led initiative”, integrada no programa de hoje, dia 28 de outubro, da conferência da EACS. “O nosso objetivo é contribuir, com estas recomendações, para que haja, pelo menos, uma avaliação de saúde mental de todas as pessoas que vivem com VIH e, se for caso disso, uma referenciação para os serviços de apoio. Temos pessoas no próprio EATG que, em 20 anos de serviços de saúde de VIH, não tiveram uma única avaliação do estado de saúde mental. O VIH é uma doença que continua associada a estigma e discriminação, ao contrário de outras doenças crónicas, e o diagnóstico de VIH pode ter um forte impacto na saúde mental”, apontou.
“De acordo com estes resultados, há ainda bastante a fazer, do ponto de vista de criação de respostas ou divulgação das respostas existentes, garantindo que há uma diversificação e um acesso generalizado a essas respostas na área da saúde mental”, reforça o Dr. Daniel Simões. Embora considere que “o espectro da saúde mental é enorme”, o entrevistado defende que “não é essencial que todas as pessoas que vivem com o VIH tenham acesso a um psiquiatra ou a um psicólogo dedicado”.
“Algumas pessoas podem necessitar apenas de outro tipo de resposta menos especializada , como, por exemplo, grupos de apoio, apoio interpares. No essencial, é desejável que a avaliação da saúde mental faça parte do pacote de cuidados de saúde. Além do conjunto de cuidados altamente diferenciado, defendemos a existência de outro tipo de respostas [na área da saúde mental], ajustada às necessidades das pessoas que vivem com o VIH.”